Revolta

Deus aprecia a revolta.

Lembro-me quando, conversando com a Vania, minha diarista, disse a ela que dei dedo para Deus.

Dedo para Deus? O que significa isso?

Sabe aquele gesto obsceno que fazemos com as mãos em que o dedo médio, ou seja, o dedo do meio, é o único que se posiciona levantado? Então, dedo para Deus é levantar aquele grandalhão em sua direção.

Eu era um adolescente que passava por conflitos oriundo da polêmica idade e, com a intenção de aconselhar, minha mãe, sugeriu que eu buscasse a Deus. Naquele momento, meu sangue que já estava quente, assim como um leite que ferve, supitou levando-me a apontar minhas duas mãos, ou melhor, meus dois dedos médios na direção de Deus.

Ao se deparar com tal cena, mamãe, atordoada, virou-se pra mim e disse: meu filho, faça esse gesto para mim, mas não faça pra Deus.

Vania, você acha que eu me arrependi? Enquanto conversávamos, essa foi a pergunta que fiz a ela. Com um sorriso no canto da boca, ela, que considero muito mais amiga do que diarista, emanou a única e plausível resposta que veio à sua mente: sim Perez, você se arrependeu.

Para os que já conhecem meu trabalho, ou seja, os que já leram outros textos por mim escritos, provavelmente não ficarão surpresos ao se depararem com minha resposta: Não, eu não me arrependo.

Não busco a polêmica para chamar a atenção, na realidade, minha boca fala do que o meu coração está cheio, ou melhor, meus dedos digitam sobre o material encontrado no meu bombeador de sangue.

Eu amo a Deus e Ele sabe disso, entretanto, naquele exato momento, com toda aquela revolta adolescente fervilhando em minhas veias, se eu, falsamente, me virasse para Ele e dissesse que o amasse, tenho certeza que a decepção em seu rosto seria muito maior do que ter presenciado a obscenidade. Na realidade, me arrisco a dizer que Deus gostou de ver toda a veracidade emanada em forma de grito e dedos para todos os lados.

Na bíblia diz para sermos quentes ou frios, nunca morno. Sabe o que é ser morno? É ser falso.

Deus aprecia a revolta